Os incisivos superiores são os dentes com maior incidência de trauma coronal. Esses dentes podem tornar-se escurecidos devido à deposição de sulfeto férrico nos túbulos dentinários, após a hemólise dos glóbulos vermelhos que extravasaram no momento do trauma. Outro fator que contribui para o escurecimento dos dentes anteriores são os restos de material obturador endodôntico na câmara pulpar.
O prognóstico de dentes anteriores escurecidos depende do tempo decorrido entre o trauma e a intervenção, a escolha da técnica restauradora e, consequentemente, a extensão do preparo. Deve-se considerar a complexidade do tratamento de dentes escurecidos, visto que é necessário um correto diagnóstico, conhecimento das razões etiológicas e, consequentemente, o tratamento adequado e individualizado de cada paciente.
As resinas compostas estão em evidência atualmente devido à sua capacidade de oferecer um potencial estético adequado. Além disso, quando a técnica é feita com precisão, o material alcança índices consideráveis de longevidade, com um custo menos elevado quando comparado com as restaurações indiretas em cerâmicas. As restaurações em resina composta direta permitem um preparo menos invasivo ou nenhuma preparação quando proposta a substituir lesões de cárie, traumas ou ainda por razões estéticas como alteração na forma ou coloração, bem como não perpassam pela fase de provisório, quando comparada a outros materiais como amálgama ou próteses indiretas.
A técnica de confecção da faceta direta em resina composta é indicada quando o elemento dental apresenta mais de 2/3 do remanescente dentário com alteração na coloração, formato e textura superficial comprometida. As facetas diretas ganharam grande espaço como alternativa restauradora estética devido ao alto número de estudos que visam o melhoramento das propriedades das resinas compostas.
A principal problemática para confecção de facetas diretas em dentes escurecidos é o mascaramento do substrato alterado. Desta forma, recomenda-se o uso de opacificadores, definidos como resinas fluidas capazes de impedir a passagem de luz e mascarar cores indesejadas do interior do dente ou também a utilização de compósitos de alto valor que, em finas camadas, conseguem substituir grandes camadas de resina composta e mascarar o substrato escurecido, atingindo a estética almejada. Entretanto, dependendo do grau de escurecimento do dente, é frequente que a utilização apenas de resinas de alto valor não sejam suficientes, para uma boa neutralização do fundo escuro, comprometendo assim o resultado estético desejado.
Com o avanço dos materiais e das opções de tratamento as técnicas foram exigindo um maior de grau aprendizado e de cuidados específicos. Assim, embora eficiente, a técnica de opacificação é complexa e requer a inserção de mínimas camadas do material. A aplicação equivocada da técnica e dos materiais pode ocasionar em uma neutralização excessiva ou insuficiente o que pode levar o profissional a aplicar maiores camadas de resina para compensar o erro.
A utilização da resina composta opacificadora para mascarar fundo escuro, da estética de dentes anteriores, com alterações de forma e cor é totalmente viável. Diante do tema, o objetivo do artigo é apresentar uma solução estética de restauração direta utilizando resina composta como instrumento resolutivo para alteração de coloração de um dente anterior, mostrando os detalhes da técnica utilizada.
RELATO
DE CASO
Paciente do sexo masculino, 28 anos de idade, procurou atendimento odontológico queixando-se de insatisfação com a coloração do elemento 21. Após anamnese e exame clínico detalhados, observou-se que o mesmo apresentava o elemento referido com escurecimento, possivelmente devido a um tratamento endodôntico insatisfatório outrora realizado, além de restauração esteticamente insatisfatória na região mesial do 11.
Para a resolução do caso, foi proposto um planejamento estético com enceramento prévio, além do retratamento do canal radicular e clareamento interno do elemento 21, além da execução de procedimento restaurador por meio da técnica operatória do facetamento estético direto com resina composta. Inicialmente, foi feita profilaxia dos dentes anteriores superiores e seleção da cor dos compósitos. As resinas de escolha foram as resinas do sistema Aura, um sistema novo de resinas composta que apresenta o intuito de simplificar a técnica restauradora. As cores escolhidas foram Db, DC1, DC2 e E1.
Inicialmente, realizou-se isolamento do campo operatório com afastador bucal optragate e fio retrator 000 Ultrapack. O preparo do dente 21 foi um preparo convencional para faceta realizado com o desgaste da face vestibular com as pontas diamantadas 2135, 2135F e 2135FF, em torno de 1,0 a 1,5mm em relação aos terços cervical, médio e incisal, respeitando-se a convexidade e a extensão proximal da face, para não comprometer a estética da restauração. Removeu-se também a restauração na mesial do 11, que apresentava uma classe IV, a fim de substituir e melhorar a estética da mesma.
Após a finalização dos preparos, a técnica restauradora consistiu na realização do condicionamento ácido durante 30s, com ácido fosfórico a 37% (Ultradent, São Paulo, Brasil), protegendo-se previamente os dentes vizinhos com fita Isotape (TDV, Santa Catarina, Brasil). O sistema adesivo utilizado foi o Single Bond Universal (3M, Minnesota, EUA), aplicado em uma única camada ativamente por 30s, a fotopolimerização foi realizada com o aparelho Valo (Ultradent, São Paulo, Brasil) por 4 intervalos de 4s a 1.400mW/cm2, totalizando 16s.
Os compósitos escolhidos foram inseridos por meio da técnica incremental, utilizando-se espátulas de resina composta do kit Estética Mont’ Alverne (Millenium Golgran, São Paulo, Brasil). Com base no enceramento foi confeccionado um guia de silicone de condensação, pasta pesada Zeta Plus (Zhermack), para auxiliar na reconstrução dos dentes. No elemento 21 foi inserida a resina DC1 para a confecção da face palatal. Em seguida, trabalhou-se a região escurecida, na qual foi aplicada a resina opacificadora Db, para mascarar o substrato escurecido, a fim de igualar a dentina dos demais. Após aplicação da resina Db sobre a região escurecida a segunda camada da restauração trabalhou-se com a resina DC2 na região do terço médio para cervical e, DC1 na região do terço médio para incisal. Tais resinas tiveram a função de definir o croma final do dente, de modo que não houvesse discrepância entre a cor do dente trabalhado e os dentes vizinhos. Para finalização do trabalho, a última camada de resina aplicada foi o compósito da cor E1, para conferir translucidez e aspecto natural à restauração.
Para o restabelecimento da anatomia do elemento 11 na região mesial, também se utilizou a guia de silicona pesada para confecção da face palatal. Para isso, a resina empregada também foi do tipo DC1, assim como no elemento 21. A finalização do trabalho foi feita com uma camada de resina para esmalte da cor E1. Em todo o trabalho, o pincel foi empregado para finalizar a acomodação do material antes da sua fotopolimerização. Após a conclusão da restauração, o acabamento e polimento foi realizado com auxílio de discos de lixa (Soflex Pop-on 3M) e borrachas abrasivas para resina composta (Dhpro).
DISCUSSÃO
A estética na odontologia é um ramo bastante complexo, envolvendo conhecimentos de diversas áreas afins, como a periodontia, a dentística restauradora, endodontia, oclusão, materiais dentários e os diversos tipos de prótese. Ela está intimamente relacionada com a harmonia entre as estruturas faciais e as individualidades do paciente, cabendo a este a aprovação final, dentro dos princípios biológicos, mecânicos e estéticos. Estudos relacionados às soluções diretas para dentes escurecidos têm demonstrado que ainda há certa cautela ao afirmar que esta alternativa possua um excelente sucesso clínico, sempre sugerindo mais pesquisas científicas, tanto in vitro quanto in vivo. Entretanto, a literatura afirma que não há nenhum parâmetro avaliativo que possa restringir esse tipo de técnica.
Fatores como extensão da perda do remanescente dental, sistema adesivo, tipos de resinas compostas utilizadas e fotoativação são levados em consideração para qualquer tipo de restauração direta, além das diversas técnicas operatórias utilizadas. Cabendo também o questionamento da qualidade desses fatores no caso do facetamento de forma direta. Um dos fatores mais importantes para o sucesso e longevidade clínica de dentes tratados diretamente com resina composta está na escolha do tipo de resina a ser utilizada. Pois as várias marcas comerciais apresentam diferentes propriedades no que tange a resistência, opacidade e translucidez, brilho e polimento que são aspectos que devem ser considerados, corroborando pelo estudo de Ryan, Tam e McComb (2010).
Neste caso clínico, foi utilizado resinas do sistema Aura – SDI em diversos cromas e valores para configurar melhor a estratificação da restauração, assim mimetizando precisamente o elemento dental. O dente natural possui como característica a policromia, possuindo grande variedade de croma, valores e nuances. Dentes com severas alterações cromáticas e variações anatômicas acentuadas são problemáticas à terapêutica restauradora estética. Outro fator que dificulta um resultado estético satisfatório é higiene bucal insatisfatória, pois favorece a degradação da matriz orgânica da resina, e consequente, alterações de textura e cor.
Anteriormente, a odontologia minimamente invasiva não era comum devido às limitações das propriedades físicas e ópticas dos materiais restauradores, tornando necessário um preparo mais extenso para o melhor mascaramento do substrato dentário. Com os avanços tecnológicos dos materiais, surgiram possibilidades de minimizar esse desgaste e, mesmo assim, obter-se resultados satisfatórios. Uma grande vantagem dos opacificadores é proporcionar a necessidade de um menor desgaste dental, devido a sua capacidade.
de impedir a passagem de luz fazendo com que a saturação do substrato dental não interfira no resultado estético do tratamento restaurador. Consequentemente, os opacificadores resinosos têm sido uma alternativa viável e eficaz para camuflar os substratos com alterações cromáticas acentuadas.
É indispensável destacar a importância de um tratamento odontológico integrado e eficaz, com ênfase no mínimo desgaste do remanescente dental e a aplicação do conhecimento dos avanços da odontologia estética e adesiva.
CONCLUSÃO
Ao final do tratamento, observou-se harmonia entre os elementos 11 e 21 em relação aos demais dentes da região anterior da arcada, tanto do ponto de vista cromático quanto anatômico. Além disso, a resina empregada mimetizou a estrutura dental, conferindo aspecto altamente natural à restauração, com isso o paciente demonstrou satisfação com os resultados alcançados.
Dessa forma, pode-se constatar que a técnica operatória de facetas estéticas diretas com resina composta é um procedimento viável e eficaz para tratar dentes com alterações cromáticas, e que o uso de resinas opacificadoras são úteis na otimização desses resultados, com um acompanhamento clínico de 24 meses.
REFERÊNCIAS
1. Jardim P, Negri M, Masotti A. Rehabilitation to crown-root fracture by fragment reattachment with resin-modified glass ionomer cement and composite resin restoration. Dental Traumatology. 2010;26(2):186-190.
2. Abbott P, Heah S. Internal bleaching of teeth: an analysis of 255 teeth. Australian Dental Journal. 2009;54(4):326-333.
3. Pedrollo Lise D, Siedschlag G, Bernardon J, Baratieri L. Randomized clinical trial of 2 nonvital tooth bleaching techniques: A 1-year follow-up. The Journal of Prosthetic Dentistry. 2018;119(1):53-59.
4. Corrêa-Faria P, de Alcântara C, Caldas-Diniz M, Botelho A, Tavano K. “Biological Restoration”: Root Canal and Coronal Reconstruction. Journal of Esthetic and Restorative Dentistry. 2010;22(3):168-177.
5. Eden E, Yanar S, Sönmez Ş. Reattachment of subgingivally fractured central incisor with an open apex. Dental Traumatology. 2007;23(3):184-189.
6. Munõz, MT, et al. Criando substratos favoráveis para restaurações cerâmicas. Full Dent. Sci., São José dos Pinhais. 2015;24(6): 514-523
7. Manhart J, Chen H, Hamm G, Hickel R. Buonocore Memorial Lecture. Review of the clinical survival of direct and indirect restorations in posterior teeth of the permanent dentition. Oper Dent. 2004;29:481–508.
8. Raj V, Macedo G, Ritter A, Swift E. Longevity of Posterior Composite Restorations. Journal of Esthetic and Restorative Dentistry. 2007;19(1):3-5.
9. Sundfeld RH, Croll TP, Briso AL, de Alexandre RS, Sundfeld Neto D. Considerations about enamel microabrasion after 18 years. Am J Dent. 2007; 20: 67–72.
10. Felippe L, Monteiro S, Baratieri L, Andrada M, Ritter A. Using Opaquers under Direct Composite Resin Veneers: An Illustrated Review of the Technique. Journal of Esthetic and Restorative Dentistry. 2003;15(6):327-337.
11. Kim S, Son H, Cho B, Lee I, Um C. Translucency and masking ability of various opaque-shade composite resins. Journal of Dentistry. 2009;37(2):102-107.
12. Dias W, Pereira P, Swift E. Maximizing Esthetic Results in Posterior Restorations Using Composite Opaquers. Journal of Esthetic and Restorative Dentistry. 2001;13(4):219-227.
13. Silva, W.; Chimeli, T. Transformando sorrisos com facetas diretas e indiretas. Revista Dentística on-line, Brasília. 2011;21(10):41-43.
14. Cardoso PC et al. Direct Composite Resin Veneers and Dental Whitening: Strategies for Discolored Teeth. Rev Odontol Bras Central. 2011; 20(55).
15. Kim S, Son H, Cho B, Lee I, Um C. Translucency and masking ability of various opaque-shade composite resins. Journal of Dentistry. 2009;37(2):102-107.
16. Lima, R, Leite J, França, R, Brito, M, Uchôa, R, Andrade, A. Reabilitação estética anterior pela técnica do facetamento – Relato De Caso. Revista brasileira de ciências da saúde. 2013;37(2): 363-370
17. Bolla M, Muller-Bolla M, Borg C, Lupi-Pegurier L, Laplanche O, Leforestier E. Root canal posts for the restoration of root filled teeth. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2016.
18. Sequeira-Byron P, Fedorowicz Z, Carter B, Nasser M, Alrowaili E. Single crowns versus conventional fillings for the restoration of root-filled teeth. Cochrane Database of Systematic Reviews. 2015.
19. Dietschi D et al. Biomechanical considerations for the restoration of endodontically treated teeth: a systematic review of the literature, Part II (Evaluation of fat… – PubMed – NCBI [Internet].
Ncbi.nlm.nih.gov. 2018 [cited 15 June 2018]. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18560650
20. Fokkinga W, Kreulen C, Bronkhorst E, Creugers N. Up to 17-year controlled clinical study on post-and-cores and covering crowns. Journal of Dentistry. 2007;35(10):778-786.
21. Mangold JT, Kern M. Influence of glass-fiber posts on the fracture resistance and failure pattern of endodontically treated premolars with varying substance loss: an in vitro study. J Prosthet Dent. 2011;105(6):387–393.
22. Kölpin M. Composite filling or single crown? The clinical dilemma of how to restore endodontically treated teeth. – PubMed – NCBI [Internet]. Ncbi.nlm.nih.gov. 2018 [cited 15 June 2018]. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/24701612
23. Hoeppner, MG; Pereira, SK; Siebel Neto, E; Camargo, LNG. Tratamento estético de dente com alteração cromática: faceta direta com resina composta. Biol. Saúde, Ponta Grossa. 2003; 9(3/4): 67-72.
24. Dietschi D. Optimising aesthetics and facilitating clinical application of free-hand bonding using the ‘natural layering concept’. British Dental Journal. 2008;204(4):181-185.
25. Blank J. Creating translucent edge effects and maverick internal tints using microhybrid resin. Pract Proced Aesthet Dent. 2006; 18(2):131-6.
26. Beyth N, Bahir R, Matalon S, Domb A, Weiss E. Streptococcus mutans biofilm changes surfacetopography of resin composites. Dental Materials. 2008;24(6):732-736.
27. D’altoé LF. Faceta direta com resinas compostas para confecção de forma, cor e posicionamento: relato de caso clínico. Revista clínica-International Journal of Brazilian Dentistry. 2005; 1: 210-218
28. Sanketh AK et al. Changing Smiles with Porcelain Veneers: A case report, Indian Journal of Dental Sciences. 2014: 6(3): 59-61
29. Ryan EA, Tam LE, McComb D. Comparative translucency of esthetic composite resin restorative materials. J Can Dent Assoc. 2010;76-84.
30. Brian LeSage D. Composites in a Three-Dimensional World | Dentistry Today [Internet]. Dentistrytoday.com. 2018 [cited 15 June 2018]. Available from: http://www.dentistrytoday.com/aesthetics/6150-composites-in-a-three-dimensional-world