A odontologia adesiva permite uma abordagem minimamente invasiva devido à capacidade de adesão dos materiais restauradores aos tecidos duros dentários (Demarco et al. 2015; Opdam et al. 2014; Pallesen et al. 2013).
Adesivos dentais com diferentes estratégias de aplicação são utilizados em uma ampla gama de procedimentos como restaurações de dentes anteriores e posteriores, cimentação de pinos, restaurações indiretas de resina ou de cerâmica, e fixação de bráquetes ortodônticos.
Três estratégias adesivas são amplamente empregadas nas restaurações dentais:
- A técnica de condicionamento total que requer um condicionamento com ácido fosfórico (35-37%) em esmalte e dentina antes da aplicação do adesivo (Pashley et al. 2011);
- A estratégia autocondicionante, que promove uma união química com o Ca da estrutura dental por meio de monômeros funcionais, requerendo somente um condicionamento seletivo de esmalte para uma boa performance neste substrato (Van Meerbeek et al. 2011);
- E os adesivos multi-modo ou universal, que combinam as abordagens de condicionamento total e autocondicionante no mesmo sistema (Munoz et al. 2014).
Para restaurações diretas posteriores, outro fator que deve ser considerado é o compósito restaurador utilizado. Os compósitos convencionais apresentam algumas desvantagens, como a necessidade de técnica incremental para reduzir a tensão de contração gerada nas paredes do preparo e também permitir um adequado grau de conversão do compósito (Bicalho et al. 2014).
Dessa maneira, novos compósitos foram desenvolvidos objetivando facilitar os procedimentos restauradores. A fim de permitir a técnica de preenchimento total da cavidade, excluindo a necessidade de inserção incremental do compósito, resinas Bulk-Fill com reduzida tensão de contração foram desenvolvidas, atingindo um excelente grau de conversão mesmo com incrementos de 4-5 mm (Do et al. 2014; Kim et al. 2015; Zorzin et al. 2015).
Esses materiais tornam o procedimento restaurador mais acessível e rápido do que o realizado com compósitos convencionais. Baseado nisso, o presente caso clínico ilustra as etapas de restauração posterior de um dente utilizando Aura Bulk-Fill, enfatizando a praticidade e excelente estética, além da estabilidade ao longo dos anos do material citado.
DESCRIÇÃO
DO CASO
Dois molares (36 e 37) apresentando restaurações de amálgama insatisfatórias foram restaurados neste caso clínico. As restaurações iniciais apresentavam fraturas marginais e inadequados contatos e contornos, indicando a substituição (Figura 1).
Primeiro, o isolamento absoluto do campo foi realizado (Figura 2) para melhor controle na remoção do amálgama, evitando a deglutição do material removido e posterior contaminação da cavidade com saliva.
Após remoção completa da restauração de amálgama, (Figura 3), o esmalte cavossuperficial foi condicionado com ácido fosfórico Super-Etch (SDI – Figura 4) para posterior aplicação de um sistema adesivo autocondicionante de dois passos (Figura 5).
No segundo molar, a dentina esclerótica presente na parede pulpar apresentava uma coloração escurecida, que poderia comprometer a aparência final da restauração. Sendo assim, uma camada de tonalidade de dentina DC2 do compósito nano-híbrido Aura (SDI) foi aplicada (Figura 6) para melhorar a estética da restauração, escondendo o fundo escuro causado pela dentina esclerótica.
Após isso, a Aura Bulk-Fill foi aplicada em um incremento nas cavidades, obtendo-se uma anatomia adequada, com as características de naturalidade dos dentes (Figura 7). Um pigmento resinoso foi aplicado nos sulcos primários (Figura 8) para simular a pigmentação deles. Após, o dique de borracha foi removido e os ajustes oclusais necessários realizados. O resultado das restaurações pode ser visto nas Figuras 9 e 10.
CONCLUSÃO
A seleção de materiais adequados e técnicas eficientes é crucial para assegurar a longevidade e estética de restaurações dentárias. Os compósitos Bulk-Fill, particularmente a Aura Bulk-Fill, demonstraram ser eficazes em simplificar os procedimentos restauradores sem comprometer a estética ou a funcionalidade das restaurações. Além disso, a durabilidade observada ao longo de 3,5 anos de acompanhamento reforça a viabilidade desta escolha de material em situações clínicas similares. Contudo, a avaliação contínua e a documentação de casos clínicos a longo prazo são vitais para fortalecer o entendimento e as evidências relativas ao desempenho e estabilidade destes materiais ao longo do tempo.