Diamino Fluoreto de Prata + Restauração Dentária: Há justificativa para essa associação?

O diamino fluoreto de prata (DFP) é amplamente reconhecido por suas propriedades terapêuticas na odontologia, particularmente no tratamento de lesões cariosas em dentes decíduos. A combinação de flúor com prata contribui para a remineralização do tecido cariado, aumenta a resistência contra futuras desmineralizações, promove a morte de microrganismos e inibe o crescimento e adesão bacteriana. No entanto, lesões ocluso-proximais em dentes decíduos representam um desafio devido à dificuldade de acesso para higienização, criando um ambiente propício para o crescimento e maturação do biofilme dental.

Em tais casos, a eficácia do DFP pode ser comprometida ao longo do tempo, com a possibilidade de reativação das lesões cariosas. Portanto, recomenda-se a combinação do DFP com uma restauração de cimento de ionômero de vidro ou resina composta. Essa abordagem permite não apenas a remineralização do tecido cariado, mas também fornece uma solução estética, restaura a forma do dente, elimina áreas retentivas e facilita o controle do biofilme.

Entretanto, o uso do DFP pode resultar em manchas na margem cavossuperficial das restaurações, o que representa uma preocupação estética. Para mitigar esse efeito, a combinação de DFP com iodeto de potássio pode ser adotada. Esta mistura pode ser encontrada em produtos como o Riva Star e o Riva Star Acqua da SDI, oferecendo uma alternativa que não só melhora os resultados clínicos mas também atende às expectativas estéticas dos pacientes. Este método é ilustrado em relatos de casos clínicos que demonstram a aplicação prática destes produtos em dentes decíduos. 

RELATO
DE CASO

Paciente do sexo feminino, 7 anos, no início da dentição mista, responsável procurou atendimento devido à sensibilidade durante a mastigação nos dentes 55 e 54. O exame clínico mostrou presença de lesões de cárie oclusoproximal ativas, que foram classificadas como ICDAS 6. 

Não foram verificadas alterações ao exame radiográfico. Os dentes foram diagnosticados com hiperemia pulpar. Após discutir com os pais as possíveis alternativas de tratamento, a associação de aplicação de DFP + restauração em resina composta foi o procedimento escolhido.

De acordo com os princípios da Odontologia Minimamente Invasiva, não houve tentativa de remoção da dentina cariada. Com instrumentos manuais (colheres de dentina), o tecido cariado foi removido apenas bordo cavo superficial. Diamino fluoreto de prata (Riva Star – etapa 1) foi aplicado nas cavidades com aplicadores descartáveis. Aconselha-se fazer uma aplicação ativa por 1 minuto. O excesso da solução foi removido com bolinhas de algodão. 

Imediatamente após, foi aplicado iodeto de potássio (Riva Star – etapa 2) na cavidade com um novo aplicador descartável. Ao aplicar o passo 2 do Riva Star, foi possível observar que a solução incolor ficou esbranquiçada. A aplicação foi repetida até que a solução permanecesse transparente. Ocorreu após 4 aplicações. O excesso da solução foi removido com bolinhas de algodão e a cavidade foi lavada com spray de água/ar. A cavidade foi então seca e foi aplicado um adesivo universal autocondicionante (ZIPbond – SDI). Após adaptação da matriz e da cunha de madeira, ambos os dentes foram restaurados com resina composta bulk-fill (Aura – SDI), que foi inserida na cavidade em incrementos de 4 mm.

As fotos mostram o momento exato em que as restaurações foram finalizadas e após 60 dias. Uma área cinza discreta leve é vista através da restauração composta. No entanto, é uma descoloração tão leve que não prejudica a característica estética da resina composta. Este resultado foi possível porque o iodeto de potássio (Riva Star passo 2) foi utilizado após a aplicação do DFP (Riva Star passo 1). Intencionalmente, o DFP (Riva Star passo 1) foi aplicado sozinho, sem o iodeto de potássio (Riva Star passo 2), em uma fissura na palatina do dente 55 e uma pequena cavidade no dente 54, e ocorreu o escurecimento do tecido desmineralizado.

DISCUSSÃO

Embora o DFP possa ser considerado um tratamento definitivo em dentes decíduos posteriores, o desejo de restauração após o tratamento é comum, tanto por parte dos pais e pacientes, que buscam recuperar a forma e a estética dos dentes, quanto dos dentistas, que visam um melhor controle do biofilme pelo selamento cavitário. A preocupação com a coloração das cavidades cariadas e das margens da restauração após a aplicação do DFP é relatada na literatura, mas essa preocupação é infundada quando se usa a combinação de DFP + KI (Riva Star ou Riva Star Acqua), que reduz significativamente a coloração dos dentes e está disponível em um único produto, facilitando o uso.

As restaurações podem ser feitas com resina composta ou cimento de ionômero de vidro, seguindo os princípios da Odontologia Minimamente Invasiva, que favorece a remineralização da dentina cariada e o uso de materiais restauradores adesivos, minimizando a perda de tecido dentário. Este procedimento também é considerado “amigo do paciente”, pois evita o uso de equipamentos que possam causar medo e ansiedade em crianças, como a alta rotação.

A principal dúvida é se as alterações físico-químicas na dentina desmineralizada causadas pelo DFP podem interferir na adesão. Estudos têm mostrado que o pré-tratamento com DFP e KI não afeta a resistência de união de sistemas adesivos convencionais, autocondicionantes ou universais. Embora esses estudos sejam in vitro e focados na dentina cariada permanente, eles são indicativos de que o mesmo deve ocorrer na dentina cariada decídua, como sugerido por um estudo recente do grupo de pesquisa do autor (dados não publicados).

Portanto, a associação de Riva Star com restauração adesiva é considerada uma boa alternativa para o tratamento de cavidades oclusoproximais em dentes decíduos. O paciente deve estar sempre consciente de que o clareamento é uma terapia, ele não está comprando um resultado. A cor final atingida depende de inúmeros fatores e varia de acordo com os indivíduos. 

REFERÊNCIAS

– Mei, M. L., Yan, Z., Duangthip, D., Niu, J. Y., Yu, O. Y., You, M., Lo, E. C. M., & Chu, C. H. (2020). Effect of silver diamine fluoride on plaque microbiome in children. Journal of Dentistry, 102, 103479.

– Zhao, I. S., Gao, S. S., Hiraishi, N., Burrow, M. F., Duangthip, D., Mei, M. L., Lo, E. C., & Chu, C. H. (2018). Mechanisms of silver diamine fluoride on arresting caries: A literature review. International Dental Journal, 68(2), 67-76.

– Selvaraj, K., Sampath, V., Sujatha, V., & Mahalaxmi, S. (2016). Evaluation of microshear bond strength and nanoleakage of etch-and-rinse and self-etch adhesives to dentin pretreated with silver diamine fluoride/potassium iodide: An in vitro study. Indian Journal of Dental Research, 27(4), 421-425.

– Siqueira, F. S. F., Morales, L. A. R., Granja, M. C. P., et al. (2020). Effect of Silver Diamine Fluoride on the Bonding Properties to Caries-affected Dentin. Journal of Adhesive Dentistry, 22(2), 161-172. 

autoria
do caso

Ana Claudia Rodrigues Chibinski

Produto
em Destaque

Riva Star

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