O Clareamento dentário é o tratamento estético mais procurado nos consultórios dentários. Por mudar significativamente o aspecto do sorriso e ser acessível, muitas pessoas de todas as idades procuram a terapia buscando aumentar a satisfação com o próprio sorriso.
Um belo sorriso é associado com qualidades desejáveis como atratividade, competência, saúde, inteligência e boas relações interpessoais. Entretanto, em nossa rotina clínica nos deparamos rotineiramente com pacientes que tem dificuldades em alcançar resultados favoráveis com a terapia clareadora, desde sensibilidade durante a terapia até pouca mudança cromática.
Diversos aspectos podem interferir na qualidade da terapia clareadora, desde expectativa excessiva até problemas nos protocolos de uso dos produtos. Vamos utilizar um caso clínico para exemplificar os fatores que podem ajudar o clínico a alcançar uma maior satisfação do paciente e alcançar o máximo da terapia utilizando o sistema de clareadores da SDI, os clareadores POLA.
PASSOS PARA ALCANÇAR
A SATISFAÇÃO DO PACIENTE
1. CORRETA ANAMNESE
O primeiro passo é realizar uma boa anamnese e entender quais são as causas da pigmentação dentária do paciente. Pigmentações extrínsecas, ou seja, pigmentos de origem externa e superficiais no esmalte são facilmente removidos pela terapia clareadora.
Pigmentações intrínsecas como manchas originadas na formação dentária, doenças, uso de medicamentos, extravasamento sanguíneo (fraturas dentárias) e por tratamento endodôntico não respondem bem ao clareamento. Em geral tendo indicação restauradora. A paciente relatou nunca ter realizado clareamento antes e não tem restaurações de resina composta na vestibular de dentes anteriores ou posteriores.
Essa observação é importante pois o paciente deve ser conscientizado de que a resina não mudará de cor e consequentemente deverá ser substituída caso ele realize a terapia clareadora. Restaurações antigas também podem ser via de passagem mais rápida do clareador e pode causar sensibilidade exacerbada desnecessária.
2. DOCUMENTAÇÂO FOTOGRÁFICA (COM ESCALA DE COR)
Todos os pacientes têm muito pouca consciência da cor real dos seus dentes. Eles podem achar que estão claros, que estão escuros, mas não sabem exatamente quantificar isso. Um trabalho recentemente conduzido na Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo mostrou que os pacientes tendem a achar seus dentes mais escuros do que realmente são.
Assim, é importante ter uma escala de cor como a Vita Classical (organizada pelo valor, do mais claro para mais escuro) ou, se possível, a VITA BLEACHGUIDE especialmente desenvolvida para acompanhar clareamento. A SDI pensou nisso e junto com o kit do POLA OFFICE PLUS incluiu escalas de cor que podem ser entregues ao paciente para fazer o controle da mudança cromática durante a terapia. Esse passo deve ser o primeiro a ser realizado pois os dentes desidratam com o paciente de boca aberta, alterando a cor real dos dentes.
Além de não ter noção da cor real dos seus dentes, o paciente com frequência esquece da cor original após o fim da terapia. Ele passa a ter aquela nova cor como referência da sua autoimagem. Assim, a documentação fotográfica é essencial para que ao término da terapia ele seja conscientizado do tamanho da evolução conseguida com a terapia. A cor inicial e a final devem ser visualizadas pelo dentista através do uso da escala por comparação e o paciente deve concordar com aquela cor para que então os valores sejam anotados no prontuário e devidamente arquivados. No caso descrito, a paciente tinha a cor 3.5M2 na escala VitaBleachguide para os incisivos centrais e 4.5M2 para os caninos.
O paciente deve estar sempre consciente de que o clareamento é uma terapia, ele não está comprando um resultado. A cor final atingida depende de inúmeros fatores e varia de acordo com os indivíduos.
3. MOLDAGEM E LIMPEZA
Vamos realizar a moldagem do paciente com alginato para confecção de modelos de gesso que darão origem às moldeiras de clareamento orientado (ou caseiro) que a paciente realizará em casa.
É IMPRESCINDÍVEL que o paciente faça raspagem e profilaxia prévia ao clareamento. A razão não é só de facilitar o contato do gel com as estruturas dentárias, mas também controlar o pH da região bucal. Placa e sujeira diminuem o pH acidificando-o. Em pH básico ou neutro, a clivagem das moléculas do H2O2, o agente de todos os clareadores, acontece mais ativamente e mais moléculas atingem os pigmentos dos dentes, facilitando o processo clareador. Assim, não só a limpeza, mas as orientações para que o paciente tenha uma excelente higiene permitem melhores resultados. Os clareadores da linha POLA já possuem pH neutro, o que melhora ainda mais esse processo.
4. PROTEÇÃO DOS TECIDOS MOLES
A concentração utilizada em clareamento de consultório pode ser extremamente agressiva para os tecidos moles. O primeiro passo para proteger as gengivas é utilizar um afastador para evitar que os lábios toquem a área a ser clareada.
O kit do POLA OFFICE PLUS acompanha afastadores labiais descartáveis que facilitam esse processo. Ainda assim, é interessante a utilização de roletes de algodão que evitam o contato das bochechas com a arcada. É importante também proteger os lábios com uma camada de vaselina ou protetor labial que pode evitar desconfortos causados pelo contato acidental de clareador com o lábio.
O próximo passo é evitar o contato do gel clareador com os tecidos gengivais, assim utilizaremos as barreiras gengivais que também acompanham o kit do clareador da SDI. Seque os dentes e a gengiva adjacente com jato de ar e não deixe de usar um sugador para a saliva do paciente. As barreiras são resinas fotopolimerizáveis, sendo assim necessário um fotopolimerizador de qualidade para conseguir uma proteção adequada.
Recomendamos o uso dos aparelhos Radii pela segurança, qualidade e quantidade de energia luminosa desses aparelhos. O paciente e operador devem sempre utilizar óculos de proteção. (Figuras 8 a 11).
5. APLICAÇÃO DO GEL CLAREADOR
O POLA OFFICE PLUS tem uma seringa especial de auto-mistura. A ponteira faz um proporcionamento adequado do peróxido e do espessante permitindo uma aplicação limpa e que dispensa a mistura e desperdício em outro recipiente, economizando tempo e material e sendo muito mais seguro. Dispense uma primeira parte do gel que ainda não está perfeitamente uniformizado para que essa porção não escorra e depois comece a aplicação nos dentes já protegidos.
O tempo de aplicação do gel é de 30 minutos. Você pode substituir o gel a cada 8 minutos para renovar o peróxido na superfície, mas muitos estudos mostram que não há diferença entre deixar pelo período total ou realizar substituições do gel durante a aplicação. Passado o tempo completo, o gel deve ser removido completamente com auxílio de uma cânula de sucção ou sugador cirúrgico. A barreira gengival pode ser retirada completamente com auxílio de uma pinça.
Após a completa remoção, prosseguiremos com lavagem abundante com água e remoção das barreiras gengivais. NÃO EXISTE nenhuma recomendação de utilizar qualquer fonte luminosa durante clareamento de consultório. Além de não potencializar efeitos, usar qualquer fonte de luz pode levar a exacerbação de sensibilidade dentária.
6. PREVENÇAO DA SENSIBILIDADE
Existe um grande número de desistências da terapia clareadora devido à sensibilidade advinda da terapia. A sensibilidade dentária é um efeito colateral que praticamente todos os clareadores promovem. Criar maneiras que permitam diminuir ou neutralizar a sensibilidade aumentam a satisfação do paciente e a adesão e colaboração com a terapia.
No caso descrito, ainda com os afastadores em posição, aplicaremos o SOOTHE, um gel dessensibilizante à base de Nitrato de Potássio. Esse gel tem a propriedade de diminuir a propagação do estímulo doloroso do dente ao cérebro, diminuindo ou eliminando o desconforto pelo uso do gel clareador. Ele pode ser aplicado diretamente sobre os dentes limpos ou com auxílio de moldeiras, devendo ficar em posição por pelo menos 3 minutos.
Depois disso, ele deve ser removido com uma gaze sem lavagem e o paciente deverá esperar pelo menos 30 minutos antes de comer ou beber qualquer coisa. Esse procedimento pode ser realizado antes e depois da terapia clareadora, sem interferir nos resultados. Ele pode ainda ser aplicado com moldeiras em outros momentos do dia, caso haja sensibilidade.
7. POTENCIALIZANDO OS EFEITOS DO CLAREAMENTO
Para garantir melhores e mais duradouros resultados, a paciente realizou também clareamento utilizando géis de peróxido de carbamida em casa. Ela recebeu uma seringa de gel de POLA NIGHT, peróxido de carbamida 10%, que é equivalente a mais ou menos 3,3% de peróxido de hidrogênio para utilização em casa, durante pelo menos 4 horas.
É importante que o paciente receba instruções adequadas sobre uso e disciplina do uso do gel clareador, assim como conservar e higienizar suas moldeiras, conservando-as em estojo. O conforto de moldeiras bem adaptadas também facilita a adesão ao tratamento. Hoje em dia não restringimos dieta e nem recomendamos uma dieta “branca” pelos pacientes, mas ele precisa saber que a higiene após o consumo de alimentos pode aumentar a longevidade do clareamento.
Além disso, a paciente recebeu seringas de Soothe, um dessensibilizante à base de nitrato de potássio que impede que o paciente tenha a percepção da sensibilidade a partir da dessensibilização neuronal dos dentes pelo gel. O Soothe pode ser utilizado também com moldeiras, uma hora antes ou logo após a remoção do gel de peróxido de carbamida.
Após duas aplicações de consultório e duas semanas utilizando o gel de peróxido carbamida, a paciente teve uma evolução de 8 unidades de escala de cor para os incisivos centrais. (Figura 12 a 17)
8. DOCUMENTAÇÂO DO RESULTADO ALCANÇADO
A cor final dos dentes deve ser determinada pelo menos 15 dias após o fim da terapia clareadora, uma vez que moléculas ativas de oxigênio permanecem na estrutura dentária por alguns dias após o fim da terapia. Por essa mesma razão, procedimentos restauradores adesivos também devem ser postergados para que não haja interferência nos processos de polimerização.
A documentação fotográfica final deve incluir a cor final dos dentes mostrando a comparação com a escala de cores utilizada desde a primeira consulta. No caso descrito, a paciente chegou a 0 M1 para os incisivos centrais e 1M1 para os caninos. Uma evolução de 9 unidades de escala de cor para os incisivos centrais e para os caninos. A ADA (American Dental Association) recomenda que para considerar que houve sucesso clínico no clareamento, deve haver pelo menos mudança de 3 escalas de cor.
REFERÊNCIAS
1. Francci, C.E.; Nishida, A.C.; Gomes, M.N.; Vito, André de. “Clareamento dental: o primeiro passo de um tratamento estético.” In: Miguel S Haddad Filho. (Org.). Endodontia de vanguarda. 1ª ed. Nova Odessa: Editora Napoleão Ltda., 2015, vol. 1, pp. 442-479.
2. Riehl, H.; Francci, C.; Costa, C.A.S.; Ribeiro, A.P.D.; Conceição, E.N. “Clareamento de dentes vitais e não vitais – Uma visão crítica.” In: Fonseca, A.S. (Org.). Odontologia estética a arte da perfeição. 1ª ed. São Paulo: Artes Médicas, 2008, vol. 1, pp. 499-565.
3. Rezende, M.; Loguercio, A.D.; Reis, A.; Kossatz, S. “Clinical effects of exposure to coffee during at-home vital bleaching.” Operative Dentistry. 2013 Nov-Dec;38(6):E229-36.
4. de Geus, J.L.; Wambier, L.M.; Kossatz, S.; Loguercio, A.D.; Reis, A. “At-home vs In-office Bleaching: A Systematic Review and Meta-analysis.” Operative Dentistry. 2016 Apr 5.